Publicado originalmente em Agro Em Campo
O agronegócio brasileiro é um dos pilares da economia nacional, responsável por cerca de 25% do PIB, com taxas de crescimento notáveis ano após ano. Embora reconhecido por sua contribuição econômica, o setor atravessa uma transformação crucial, impulsionada pela integração da tecnologia, que merece atenção especial.
O perfil do produtor rural brasileiro está passando por mudanças. Pesquisas recentes indicam um avanço na digitalização dos produtores, impulsionado por uma infraestrutura tecnológica cada vez mais robusta e por novas formas de interação com o mercado e distribuidores. Em paralelo, os investimentos em tecnologia também estão em evolução, reforçando um cenário cada vez mais tecnológico.
Diante desse panorama, surgem algumas questões: qual é o nível de digitalização dos produtores? Como evoluíram os investimentos em tecnologia entre produtores e distribuidores? E, olhando para o futuro, quais são os desafios e oportunidades que o setor enfrentará nos próximos anos?
O produtor está se tornando mais digital
A digitalização do agronegócio brasileiro ainda é um movimento recente, marcado por desafios e oportunidades. Apesar de o país contar com mais de 5 milhões de produtores rurais, aproximadamente 80% das terras agrícolas estão concentradas nas mãos de apenas 9% dos proprietários. Essa concentração facilita estratégias para alcançar grandes produtores, mas exige abordagens digitais para alcançar os outros 91%, predominantemente pequenos agricultores.
Hoje, apenas 600 mil produtores utilizam plataformas online, evidenciando que a digitalização ainda está em estágio inicial. Revendas tradicionais ainda dominam o acesso ao mercado (46%), mas a penetração dos marketplaces digitais cresce entre grandes propriedades, com adoção variando de 32% a 45%. A conectividade é particularmente forte entre os jovens: 82% dos produtores com menos de 25 anos estão conectados, enquanto a taxa cai para 5% entre os acima de 55 anos. Essa mudança geracional acelera a transição de modelos tradicionais “porteira a porteira” para transações digitais.
Os sistemas produtivos e a tecnologia
A evolução dos investimentos em tecnologia nos sistemas produtivos é fundamental para o fortalecimento e a competitividade do agronegócio brasileiro. À medida que o setor enfrenta desafios como a crescente demanda por alimentos, a escassez de recursos naturais e as mudanças climáticas, a adoção de tecnologias inovadoras torna-se uma estratégia essencial para maximizar a eficiência e a produtividade. As principais áreas de aplicações incluem agricultura de precisão, desenvolvimento genético e Internet das Coisas (IoT), que estão moldando a forma como os produtores rurais gerenciam suas operações.
Nos últimos anos, o investimento em tecnologias voltadas para a agricultura de precisão tem crescido exponencialmente, refletindo uma mudança significativa na abordagem da produção agrícola. De acordo com a Embrapa, o mercado de agricultura de precisão no Brasil deve atingir um valor de R$ 30 bilhões até 2025. Isso com um crescimento anual de aproximadamente 15%. Esse crescimento é impulsionado pela adoção de tecnologias como drones, sensores e sistemas de monitoramento. Eles permitem uma gestão mais eficiente das lavouras, resultando em aumento de produtividade e redução de custos operacionais. Estudos também apontam que o uso de tecnologia no campo pode aumentar a produção agrícola em até 70% até 2050, ajudando a atender à crescente demanda global por alimentos.
Além disso, a adoção da IoT está transformando a gestão das operações agrícolas. Atualmente, cerca de 12 milhões de hectares no Brasil (18% do total) são monitorados por dispositivos IoT. Eles promovem maior precisão na irrigação e aplicação de defensivos. Essas inovações não apenas aumentam a eficiência do uso de recursos, mas também promovem práticas agrícolas mais sustentáveis, como a redução de desperdício de água em até 30%. Com a crescente conscientização sobre a importância da sustentabilidade, a tendência é de que os investimentos em tecnologias verdes e soluções que promovam a eficiência ambiental aumentem consideravelmente, moldando o futuro do setor agropecuário.
A cadeia que atende o Agro
Com o avanço da digitalização entre produtores, o comportamento de compra e as expectativas em relação aos canais de venda também estão mudando. No entanto, muitas empresas que atendem o setor têm demorado a acompanhar essa transformação.
Embora existam avanços pontuais em P&D, suprimentos, marketing e atendimento ao cliente, os investimentos em tecnologias digitais nas empresas do setor seguem baixos. Em 2023, apenas 1% da receita das empresas foi destinada à tecnologia, com previsão de um modesto aumento para 1,1% em 2024. Além disso, aproximadamente 75% desses recursos são usados para manutenção de estruturas já existentes, sem foco em inovação ou criação de novas fontes de receita.
Essa falta de foco em transformação digital limita o crescimento do setor e sua capacidade de atender às novas gerações de produtores. Empresas precisam diversificar suas estratégias de mercado, adotando canais digitais que ofereçam praticidade e experiências personalizadas. Isso não apenas amplia sua relevância. Mas também permite a coleta de dados de consumo, reestruturação de equipes comerciais, aprimoramento de ofertas personalizadas e fortalecimento do relacionamento com a próxima geração de líderes rurais.
O amanhã e os desafios
Com a digitalização acelerada dos produtores rurais brasileiros, é imprescindível que as empresas que atendem a esse setor acompanhem esse ritmo dinâmico. A transformação digital deixou de ser uma opção para se tornar uma necessidade estratégica para atender às novas expectativas dos produtores. Adaptar-se a esse cenário significa investir em plataformas digitais, equipes capacitadas e abordagens mais personalizadas.
Empresas que aproveitarem essa oportunidade terão a chance de se posicionar como parceiras de confiança, contribuindo para um agronegócio mais eficiente, sustentável e competitivo. Ao alinhar-se às demandas dos produtores conectados, o setor pode transformar desafios em oportunidades, moldando um futuro inovador e promissor para o agro brasileiro.