Fintechs ampliam oferta de contas globais e acirram disputa com bancos

Peers Consulting & Technology

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Categoria Matéria

Publicado originalmente e Finsiders Brasil.

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Empresas buscam popularizar um produto que até um tempo atrás estava disponível apenas para clientes de alta renda de grandes bancos

 

 

O fenômeno das contas globais deve ganhar ainda mais força. Segundo especialistas, o movimento deve ser impulsionado pela combinação entre aumento dos gastos de brasileiros com cartão no exterior [veja tabela], volatilidade do real e incertezas econômicas. De olho nisso, as fintechs vêm ampliando a oferta para disputar mercado com os ‘bancões’. O objetivo é popularizar o produto, ou seja, ir além da alta renda.

Dos grandes bancos, apenas a Caixa Econômica Federal ainda não oferece o produto – mas diz estudar a possibilidade. Bradesco, Itaú Unibanco (que é controlador da Avenue), Banco do Brasil (BB) e Santander têm seus produtos globais no mercado. Em abril deste ano, foi a vez do Nubank lançar sua conta global para clientes de alta renda (Ultravioleta) em parceria com a fintech britânica Wise.

Nessa disputa, existem também as fintechs que nasceram com esse propósito, por exemplo, Nomad e a própria Wise. Além do Nubank, outros bancos digitais como C6 Bank, Inter e o britânico Revolut têm soluções nesse mercado. O filão também atraiu a Remessa Online, fintech do Ebanx.

 

 

 

 

Enquanto os bancos se valem de “solidez, tradição e segurança” nessa seara, as fintechs surgem com taxas menores. Além disso, oferecem vantagens que vão desde parcelamento na compra de dólares a internet grátis no exterior. De acordo com especialistas e executivos do setor, as empresas estão focando em um público “emergente”, não no convencional de alta renda explorado pelos bancos.

 

Um exemplo recente é a campanha da Nomad. A fintech vem anunciando sua conta global na TV com o popular ator norte-americano Will Smith como garoto propaganda. Além de mirar em um cliente menos “prime”, a Nomad escolheu quem tem dinheiro, estuda, viaja e/ou recebe salário no exterior – mas que ainda não investe em dólar, diz Eduardo Baer, diretor de operações da Nomad, ao Finsiders Brasil. A fintech trabalha com parcerias, mas já está em vias de obter licença de distribuidora. Eduardo acredita que existe espaço para conseguir a “principalidade” desses clientes que recebem em dólar.

 

 

Questão regulatória

Marcelo Tschiedel, gerente da Strategy&, consultoria estratégica da PwC, nota que a posição dos ‘bancões’ é “conservadora” para abertura de contas. Em alguns casos, há exigência de valor de depósito mínimo, por exemplo, ou o produto está disponível somente para clientes de alta renda.

A justificativa pode estar, justamente, no arcabouço regulatório ao qual os bancos estão submetidos, algo mais brando na configuração de uma fintech, pondera Tiago Abreu Couto, diretor-líder das práticas de Bank da Peers Consulting & Technology. “De certa forma, o peso regulatório para garantir a segurança e uma base de clientes de renda mais alta, comparado com fintechs, gera maiores restrições e menores estímulos para essa expansão”, diz.

Entre ‘peixes grandes’ que disputam margens apertadas para conseguir taxas mais atrativas para os clientes, fintechs pequenas podem ainda podem obter vantagens por serem ágeis e inovadoras. “[Elas podem] lançar rapidamente novos produtos ou funcionalidades que atendam demandas emergentes do mercado. Essa capacidade de inovação constante pode ser uma vantagem competitiva importante e geralmente é o que atrai a atenção dos bancos grandes e tradicionais no momento de estabelecerem parcerias”, diz Mikaely.

O que é bom para abreviar processos de desenvolvimento, pode ser um entrave para operações internacionais. “É um tipo de operação que exige um certo nível de sofisticação, pois é necessário manter operações em mais de um país, observando as leis e regulações do sistema financeiro de cada um destes países, o que não é nada trivial. Dessa forma, se trata de um mercado com certas barreiras de entrada, o que dificulta a entrada de fintechs menores”, analisa Marcelo.

No entanto, mudanças regulatórias recentes têm aberto espaço para a competição de players menores, lembra Tiago, da Peers. “O Marco Cambial, por exemplo, permitiu que fintechs passassem a atuar no processo de câmbio sem necessidade de mediação dos grandes bancos.”

 

 

Perfil dos clientes

A pedido do Finsiders Brasil, o C6 informou que a idade média do cliente da C6 Conta Global é de 40 anos. “Ele usa a conta, principalmente, para fazer compras em lojas físicas no exterior. Em julho deste ano, por exemplo, 77% dos gastos totais com o cartão de débito internacional foram em lojas físicas em outros países”, disse a instituição, em nota.

Um levantamento de dados feito pela Wise, considerando sua base de clientes, mostra que os brasileiros estão diversificando o uso do cartão, gastando em uma variedade maior de moedas e destinos. Além disso, vêm preferindo transações digitais e com valores mais altos. Em 2023, o foco esteve em transações de menor valor, como restaurantes e transporte local. Já este ano, as compras de ticket médio mais alto, como eletrônicos, ganharam destaque. O número do uso de cartão em carteiras digitais aumentou, enquanto o de saques internacionais caiu no mesmo período.

 

 

Perspectivas

Nos próximos anos, contudo, é esperado que vejamos mais serviços ofertados para além do dólar norte-americano. Isso significa, por exemplo, a expansão das contas multimoedas e outras funcionalidades mais avançadas, como a conversão automática ao melhor câmbio e proteção contra variações cambiais.

Além disso, inteligência artificial (IA) e machine learning podem ser usadas para personalizar ofertas de produtos financeiros, prever comportamentos e necessidades dos clientes.

Marcelo, da Strategy&, também aposta na integração dessas contas globais com os sistemas de pagamentos instantâneos dos países. “Não deve demorar muito para que possamos fazer um Pix diretamente para uma pessoa na Índia, que receberá o dinheiro em sua conta via UPI, o sistema de pagamentos instantâneos indiano”, diz.

No limite, as tecnologias que usam de blockchain, principalmente os criptoativos, neste caso, poderiam tornar as contas globais tradicionais obsoletas. Isso porque o cliente conseguiria transacionar globalmente utilizando Bitcoin, por exemplo, sem necessidade de fazer câmbio.

Nesta seara, entra a plataforma Drex, ainda em estágio de desenvolvimento pelo Banco Central (BC). Porém, este ainda é um cenário distante, avaliam os especialistas.

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