Investimentos do setor financeiro em IA devem crescer mais de 100% até 2027

Segmento é o que mais gasta com IA, com cifra que deve atingir US$ 97 bilhões em 2027

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Materia publicada originalmente em Capital Aberto

 

De olho em previsões mais acertadas, corte de custos, redução de fraudes, entre outras vantagens, o setor financeiro está apostando pesado em inteligência artificial, revelam dados da International Data Corporation, divulgados em publicação do FMI com foco no tema.

 Segundo o estudo, os gastos com software, hardware e serviços de IA até 2027 crescerão mais de 100%, para US$ 97 bilhões – aumento anual de 29%, o mais alto entre cinco grandes setores pesquisados. Considerando as diferentes áreas dos investimentos em IA dos diferentes setores, a cifra deve saltar de US $166 bilhões este ano para US$ 400 bilhões em 2027.

 

Hedge

Entre os destaques, a revista do FMI menciona os fundos de hedge, tradicionais pioneiros em tecnologia de ponta e usuários da inteligência artificial generativa.

Quase metade deles utiliza profissionalmente o ChatGPT, e mais de dois terços o utilizam para escrever textos de marketing ou resumir relatórios ou documentos, segundo pesquisa do BNP Paribas realizada com fundos que somam US$ 250 bilhões em ativos.

 

Tendências

No Brasil, Guilherme Sales, gerente sênior da Peers Consulting & Technology, destaca três grandes frentes “mais factíveis no curto e médio prazo”, em que a AI que deve trazer mais resultados tanto em relação à redução de custos como em incremento de receita e base de clientes.

A primeira delas é a automação de ações repetitivas de backoffice financeiro e de processos como conciliação de recebíveis, pagamentos e predição de default de pagamentos.

Na segunda vertente, a IA pode ajudar na criação de novos produtos e serviços financeiros.

“As empresas do mercado financeiro poderão utilizar IA para alavancar alguns processos que possibilitam incremento da base de clientes através da definição correta de produtos para clientes específicos”, diz.

Ele também ressalta que a IA também pode prever receita futura gerada por cada cliente e a taxa de cancelamento ou não renovação de serviços.

Na terceira frente, ele aponta a análise de riscos de compliance e de risco de crédito. “Ferramentas de IA possibilitam a identificação de fraudes com muito mais celeridade que humanos o fariam”, afirma ele.

Amundi

E muita coisa já está acontecendo. Empresas de investimento estão utilizando e investigando o potencial da IA em diversas linhas de negócios. Entre elas, a publicação do FMI cita a Amundi, maior empresa de investimentos da Europa, com sede em Paris e €2 trilhões (US$2,1 trilhões) em ativos sob gestão.

A Amundi está desenvolvendo sua própria infraestrutura de IA para pesquisa em macroeconomia e mercados. Também utiliza a tecnologia para aplicações como ferramentas de orientação para clientes individuais. Alguns dos mais de 100 milhões deles têm carteiras concebidas com ajuda da IA, com base em seu apetite para riscos.

Mas nem tudo fica a cargo do software. “A inteligência artificial não pode substituir o cérebro”, afirmou à publicação do FMI Monica Defend, estrategista chefe da unidade de pesquisa e estratégia da empresa.

Para Monica, um processo totalmente movido pela IA pode ser perigoso. “É igualmente importante interpretar, entender e verificar o que os algoritmos estão fornecendo.”

 

Riscos

Para Gary Gensler, presidente da SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA,  o uso desenfreado de inteligência artificial também traz outro risco: o desencadeamento de crises financeiras.

“A IA pode aumentar a fragilidade financeira, pois pode promover o comportamento de manada, com atores individuais tomando decisões semelhantes porque estão recebendo o mesmo sinal de um modelo base ou agregador de dados”, disse ele a repórteres em julho.

Há, porém, quem pense diferente. “Esse é uma ideia que está sendo bastante discutida e pressupõe que as pessoas vão ter comportamentos de manada no mercado financeiro porque são dirigidas por padrões algorítmicos análogos, os quais se derivariam do fato de eles terem a mesma base estatística”, afirma Álvaro Machado Dias, neurocientista e futurista, professor livre-docente da UNIFESP.

“Acontece que os novos algoritmos justamente procuram incorporar esse fator e encontrar rotas mais eficientes, ou em outras palavras, criativas, à luz do fato de que as pessoas estão tendo suas decisões emuladas umas pelas outras”, diz. “Então eu não acho que seja real”.

Para ele, o alerta é outro.  “Há riscos sim de impactos financeiros negativos da proliferação algorítmica, mas eles têm muito mais a ver com o fato desta levar à substituição do trabalho, redução do mercado consumidor e outras externalidades associadas”, finaliza,