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O Futuro do Modelo de Trabalho: Cultura, Performance ou apenas “Depende”?

Publicado originalmente em RH Pra Você

 

Nos últimos anos, uma das discussões mais acaloradas no mundo corporativo tem sido sobre qual modelo de trabalho prevalecerá: presencial, híbrido ou remoto. Mas estamos realmente prontos para uma resposta definitiva? Antes de chegarmos a conclusões, talvez seja essencial dar um passo atrás e analisar como chegamos até aqui.

Antes de 2020, o trabalho remoto era visto por muitas empresas como um privilégio ocasional, geralmente restrito a um dia da semana, às sextas-feiras. Dados da Gartner mostram que, até aquele ano, menos de 20% das empresas adotavam esse modelo regularmente.

 

O futuro do modelo de trabalho é flexível, mas engajamento continua essencial

A pandemia, no entanto, forçou um experimento global sem precedentes, revelando duas grandes lições:

  1. O trabalho remoto é viável e produtivo.
  2. Novas ferramentas e práticas (como Zoom, Teams e o uso combinado de comunicação síncrona e assíncrona) reformularam a forma como colaboramos. Ganhamos tempo eliminando deslocamentos, mas perdemos a espontaneidade das interações presenciais.

A partir de 2022, o movimento se inverteu. O declínio de resultados de diversas empresas — de big techs a varejistas — reacendeu debates sobre custos, produtividade e engajamento. Layoffs, ajustes de estrutura e maior busca por eficiência operacional reacenderam a discussão sobre o retorno ao trabalho presencial como uma forma de reconstruir o engajamento e a colaboração espontânea.

Curiosamente, não há um consenso definitivo. Empresas inovadoras de tecnologia adotaram diferentes caminhos: algumas retornaram ao presencial, outras permaneceram híbridas ou totalmente remotas. Ou seja, não se trata de um embate entre o “tradicional” e o “moderno”, mas de um grande e complexo “depende”.

 

Todo modelo de trabalho é temporário, até a próxima reunião de alinhamento

O modelo ideal para cada empresa varia de acordo com múltiplos fatores:

  • Performance organizacional:  Se o modelo atual gera bons resultados, faz sentido mudá-lo?
  • Natureza do trabalho:  Algumas funções exigem maior interação física, enquanto outras operam bem remotamente.
  • Cultura organizacional e estratégia: Empresas voltadas ao digital podem prosperar no remoto, enquanto negócios que demandam inovação rápida podem se beneficiar da presença física.
  • Infraestrutura e contexto econômico:  Disponibilidade de espaços físicos, ferramentas tecnológicas e até fatores geográficos influenciam essa decisão.

O cenário atual reflete um jogo de forças. De um lado, empresas buscam o que consideram melhor para seus negócios, seja o retorno ao presencial ou a manutenção do modelo híbrido/remoto. Do outro, colaboradores resistem a mudanças bruscas e defendem mais flexibilidade.

Mas o que funciona hoje pode não funcionar amanhã. Empresas podem mudar suas políticas conforme o mercado, a economia e a estratégia evoluem. Assim como profissionais que trocam de emprego por um modelo de trabalho específico podem ser surpreendidos com mudanças futuras.

 

Ainda estamos construindo o futuro do trabalho

 

Querer uma resposta definitiva sobre o modelo ideal pode ser precipitado. Até 2020, o trabalho presencial era a norma, e o home office era um diferencial competitivo. Hoje, ainda estamos ajustando as peças desse novo quebra-cabeça.

Pesquisas do WFH Research mostram que, nos EUA, profissionais que ganhavam mais de US$ 20.000 anuais trabalhavam remotamente menos de 8% do tempo em 2019. Esse número saltou para 62% em maio de 2020, durante o lockdown, e hoje se estabilizou em cerca de 30% (aproximadamente dois dias por semana). Globalmente, a média é similar, segundo o Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento.

No entanto, a partir de 2022, observa-se um movimento de retorno ao escritório. Empresas como Goldman SachsJPMorgan, Dell e Walmart aumentaram as exigências de presença física, alegando preocupações com produtividade, cultura corporativa e custos de espaços de escritório subutilizados. Por outro lado, companhias como a Yelp optaram pelo modelo totalmente remoto.

O modelo ideal é sempre negociado, nunca imposto

Em 2024, a divergência entre empregadores e colaboradores se intensificou. Nos EUA, um terço dos trabalhadores deseja trabalhar remotamente em tempo integral, mas as empresas planejam oferecer, em média, apenas dois dias de home office por semana. Fora dos Estados Unidos, a expectativa dos funcionários gira em torno de dois dias remotos, enquanto as empresas preferem menos de um.

Esses dados mostram que não há um modelo único e definitivo, visto a complexidade e a evolução contínua dos modelos de trabalho. A decisão sobre qual modelo adotar depende de múltiplos fatores, incluindo a natureza do trabalho, a cultura organizacional e as dinâmicas do mercado que a organização está inserida, equilibrando produtividade, bem-estar e flexibilidade. Mais do que buscar o “modelo certo”, a verdadeira questão é: como garantir alta performance e engajamento, independentemente do formato?

Afinal, estamos apenas no começo dessa jornada, e o futuro do trabalho é tudo, menos estático. O futuro do trabalho está em construção. O caminho envolve aprendizado, adaptação e, acima de tudo, diálogo aberto entre empresas e colaboradores. Em vez de um cabo de guerra, talvez a chave esteja em construir juntos.

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