O papel da integração na jornada de M&A
Por Miguel Vieira, Associate Manager
Sucesso das operações pós-fusões e aquisições depende de fatores como valuation adequado e boa gestão de cultura
Durante a jornada das operações de fusões e aquisições (M&A), são comuns entre os profissionais envolvidos na fase de integração dentro das empresas questionamentos sobre a efetividade das mudanças que costumam ocorrer em processos, tecnologias, e gestão de pessoas. O fato é que as modificações representam o reflexo final do processo de M&A, e se não forem efetivas terão impacto na percepção de valor da companhia junto aos seus clientes, aos acionistas e à sociedade.
Confirmando essa percepção, um estudo da Harvard Business Review mostrou que cerca de 70% dos processos de fusões e aquisições falham na geração dos valores esperados. E há alguns fatores que contribuem para o alto índice de insucesso, entre eles:
-
valuation (avaliação do valor da empresa) inflado, sem uma análise exaustiva da operação da empresa e do mercado em que está inserida;
-
due diligence (avaliação prévia à aquisição) inconsistente, sem identificação de riscos e de fatores-chave para o sucesso do negócio;
-
superestimativa das sinergias, com o foco em obtê-las no curto prazo, a qualquer custo sem se observar a perenidade do negócio;
-
choque de culturas distintas e históricos de competição, que podem dificultar as relações interpessoais;
-
negligência quanto às boas práticas da empresa adquirida e imposição cultural, resultando em desmotivação e perda de talentos;
-
planejamento inadequado do processo de integração com prazos irrealistas e sem um plano de comunicação adequado;
-
perda de foco na implementação do processo de integração em detrimento das rotinas diárias da operação.
A lista de motivos para o insucesso de M&A é extensa e exemplos de organizações que falharam são conhecidos. Vale lembrar de alguns.
Daimler-Benz e Chrysler (1998): 36 bilhões de dólares
O caso foi de choque de culturas. O modelo de tomada de decisão rigoroso e metodológico da Daimler-Benz contrastou com o da Chrysler, mais criativo e desestruturado. Havia políticas salariais e estruturas organizacionais distintas, com uma Daimler-Benz hierarquizada e formalizada e uma Chrysler com poucos níveis hierárquicos e informal nas relações. Resultado: venda da Chrysler por 7 bilhões de dólares.
Google e Motorola (2012): 12 bilhões de dólares
A proprietária do sistema operacional Android adquiriu uma grande fabricante de celulares. Entretanto, o que se observou foi a incapacidade de a Motorola inovar e produzir celulares de qualidade para competir com a Apple e a Samsung. Questiona-se, aqui, se o Google avaliou exaustivamente se a Motorola contava com mentes capazes de inovar, como era comum no início dos anos 2000. Resultado: a Motorola foi vendida por 2,9 bilhões de dólares.
Fatores para o sucesso
Por outro lado, o professor de estratégia e inovação da Universidade de Oxford Timothy Galpin menciona três fatores de sucesso nas operações de M&A:
-
Acurácia no valuation e exaustividade na análise da empresa;
-
Proficiência na gestão da metodologia da integração, ou post merger integration (PMI);
-
Habilidade de endereçamento de fatores humanos como comunicação, cultura e retenção de talentos.
Exemplos dessa dinâmica são empresas como Magalu e LVMH, que elegeram o M&A como pilar estratégico e viram seus valores de mercado se multiplicarem nos últimos anos. Reconhecidamente, essas companhias conseguiram, através da experiência e da recorrência nas aquisições, ter sucesso nesses três fatores — com destaque para o humano, por meio do qual buscam manter a identidade das adquiridas, seu caráter inovador e único, o que permite a retenção e o engajamento de talentos.