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Nas dez maiores varejistas do país com capital aberto, o split payment será aplicado a cerca de R$ 12 bilhões em tributos de consumo, aponta Peers Consulting + Technology
O cenário da Reforma Tributária no Brasil está em constante reconfiguração, abordando frentes que vão desde as novas alíquotas de impostos sobre o consumo até a implementação de novos mecanismos de cobrança, como o split payment. Nesse complexo contexto, a clareza sobre o impacto financeiro e as medidas de adequação se tornam essenciais, especialmente para os grandes players do varejo.
Em um levantamento exclusivo para o jornal Valor Econômico, a Peers Consulting + Technology destacou a estimativa de impacto do split payment no fluxo de caixa das dez maiores varejistas do país. Para aprofundar este debate crucial e evidenciar os desafios da transição tributária, nosso especialista Daniel Chimelli, Associate Manager e responsável pelo levantamento, analisa os principais pontos do estudo.
Na entrevista, ele detalha o estudo que aponta o potencial impacto da nova cobrança sobre cerca de R$ 12 bilhões em tributos de consumo e as principais preocupações do mercado em relação ao fluxo de caixa, além de orientar as empresas sobre como se preparar para o novo sistema. Confira a análise completa abaixo:
O Impacto do Split Payment no Fluxo de Caixa do Varejo Brasileiro
A implementação do Split Payment, um dos pilares da reforma tributária brasileira, representa uma mudança significativa na dinâmica fiscal das empresas, especialmente no setor de varejo. Previsto para começar em fase de testes a partir de 2026, ainda sem efeito prático sobre o recolhimento de tributos, o modelo será implementado de forma gradual, com plena vigência a partir de 2033. Diante desse cenário, realizamos uma análise para compreender o potencial impacto da nova sistemática sobre o fluxo de caixa e organização financeira das companhias.
Nossa abordagem consistiu em analisar as demonstrações financeiras de 2024, em especial a DVA (Demonstração do Valor Adicionado), das principais empresas de varejo de capital aberto nos segmentos de vestuário, alimentação e farmacêutico no Brasil. A partir desses dados, mapeamos o total de tributos pagos (federais, estaduais e municipais) por cada player ao longo do ano.
Considerando que, em média, cerca de 40% da carga tributária incide sobre o consumo, abrangendo bens e serviços que seriam diretamente impactados pela Reforma Tributária e pelo Split Payment, estimamos que, entre os 10 maiores players do setor, aproximadamente R$ 12 bilhões dos R$ 30 bilhões pagos anualmente em tributos estariam sujeitos a alterações significativas sob o novo modelo.
É importante ressaltar que ainda não é possível afirmar com precisão se o montante total de impostos pagos aumentará ou diminuirá com a implementação da reforma tributária, uma vez que as alíquotas definitivas ainda não foram formalmente estabelecidas. No entanto, estima-se que a alíquota combinada do novo modelo de IVA dual — composto pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) — fique entre 26,5% e 28,5%. A principal mudança será a simplificação da estrutura tributária, que substituirá diversos tributos atuais por esses dois novos.
Além disso, estão previstas alterações estruturais relevantes, como o fim da tributação na origem e da cumulatividade (efeito cascata). Tais mudanças trarão tanto desafios quanto oportunidades para as áreas de suprimentos, finanças, planejamento tributário e estrutura societária das empresas, exigindo adaptações estratégicas e operacionais.
Como o Split Payment Altera o Jogo para o Varejo
A principal alteração prática com a implementação do Split Payment reside na forma como os impostos serão recolhidos. Atualmente, o valor integral de uma transação é repassado da empresa compradora para a empresa fornecedora, e somente após esse recebimento os impostos devidos são recolhidos. Com o Split Payment, no exato momento da transação, o processador de pagamentos (como uma adquirente ou um gateway) será o responsável por segregar a parcela destinada ao governo da parcela do fornecedor. Ou seja, o imposto será retido na fonte, antes mesmo de o valor total chegar à conta do vendedor.
Ainda que não possamos precisar a quantia exata de impostos a ser paga no futuro, o regime de Split Payment, sem dúvida, impactará fortemente o fluxo de caixa e a organização financeira das companhias. Antes, as empresas podiam usufruir do valor integral da venda por um determinado período, utilizando esse capital para diversas finalidades, como capital de giro, investimentos de curto prazo ou quitação de outras despesas, para somente depois efetuar o pagamento dos impostos. Com o Split Payment, essa “vantagem” deixará de existir.
Essa mudança acarreta alguns desafios importantes para as empresas do varejo, como:
- Desafios de Adaptação Tecnológica e Contábil: A implementação do Split Payment exigirá adaptações significativas nos sistemas de gestão e contabilidade das empresas, bem como nos processos de conciliação.
- Redução Gradativa da Liquidez: A retenção do imposto no momento da transação significa que um percentual significativo da receita bruta não estará disponível para a empresa. Isso pode levar a uma redução imediata da liquidez e exigir um planejamento financeiro ainda mais rigoroso para garantir o cumprimento de obrigações de curto prazo.
- Maior Dependência de Otimização do Capital de Giro: Empresas que dependiam do prazo de recolhimento de impostos para financiar parte de seu capital de giro precisarão buscar novas fontes de financiamento ou otimizar seus processos de gestão de estoque e contas a receber.
Diante desse cenário, é necessário que as empresas do varejo iniciem, o mais breve possível, um planejamento estruturado com foco em movimentos estratégicos e operacionais para buscar mitigar riscos e coletar oportunidades deste novo regime inevitável. Iniciar este movimento imediatamente não é se antecipar, é na verdade fundamental para garantir a resiliência e a competitividade do setor frente às mudanças e propostas pela reforma tributária.
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