Publicado originalmente Educador21
Balanços do 2º trimestre de 2025 mostram “batalha de modelos” entre volume e valor e apontam tendências de tecnologia e conexão com o mercado
O setor de Educação Superior no Brasil manteve sua resiliência e lucratividade no segundo trimestre de 2025, mesmo diante de pressões por redução de preços e estratégias agressivas de captação de alunos. Segundo Tiago Abreu Couto, diretor-executivo da Peers Consulting + Technology, os resultados financeiros e operacionais dos principais grupos revelam uma diversidade de modelos de negócio que pode definir o futuro do setor.
A análise dos balanços aponta margens líquidas entre 9% e 11%, com lucro líquido positivo para todos os players. Enquanto a YDUQS lidera em receita, alcançando R$ 3,1 bilhões, a Ânima se destaca pela rentabilidade, com Margem EBITDA de 41,5% e Margem Líquida de 11,1%. Essa diferença evidencia a chamada “batalha de modelos”: algumas instituições apostam em escala e volume, outras em valor e diferenciação.
“O setor de educação sempre foi marcado por diferentes visões estratégicas. Algumas instituições buscam crescer em escala, outras priorizam diferenciação acadêmica ou proximidade com nichos específicos. O impacto no futuro depende menos de quem ‘vence’ e mais da capacidade de cada modelo em se adaptar às transformações do aluno”, afirmou Tiago Couto.
Volume vs. Valor: modelos distintos em disputa
O estudo revela contrastes estratégicos claros. A Cogna foca em escala massiva, com 426 mil alunos e o menor ticket médio (R$ 355), enquanto a Ânima privilegia o valor, com maior ticket médio (R$ 901) e indicador de retenção excepcional, com evasão de apenas 10,8%. A YDUQS, por sua vez, se sustenta por capilaridade, com 108 campi e 2.475 polos EAD, garantindo acesso amplo ao ensino em todo o país.
“Competir pelo preço é uma realidade em quase todos os mercados. Essa estratégia funciona até certo ponto, mas no médio prazo exige um esforço importante em eficiência e, sobretudo, inovação para não tornar margens menores uma realidade”, explicou Tiago Couto, ao detalhar os desafios de manter sustentabilidade financeira enquanto se busca captação via redução de ticket.
Outro diferencial competitivo destacado é a dominância da Cogna em Medicina, com quase 41 mil alunos, superando a soma de outros players, um fator relevante para rentabilidade e posicionamento estratégico.
Lições estratégicas para gestores e mantenedores
Tiago Couto também identificou duas macrotendências: tecnologia como pilar central e conexão direta com o mercado de trabalho. A personalização em escala, impulsionada por Inteligência Artificial, é apontada como inevitável para criar currículos adaptáveis e experiências sob medida.
“A personalização em escala é um sonho presente em muitos setores. No caso da educação, os desafios são semelhantes: infraestrutura tecnológica, formação de profissionais para lidar com novas ferramentas e, principalmente, a criação de uma cultura que valorize a inovação”, disse o especialista.
Além disso, a integração com o mercado de trabalho exige que as instituições deixem de oferecer apenas diplomas, passando a entregar experiências contínuas de aprendizado, desenvolvendo competências socioemocionais e preparando os estudantes para novas demandas profissionais.
“Em qualquer organização, é preciso equilibrar escala com qualidade, e resultado financeiro com reputação. As instituições que se destacam são aquelas que diversificam suas fontes de receita, investem em eficiência e mantêm compromisso genuíno com a entrega de valor para o aluno”, concluiu Tiago Couto.
A análise dos resultados do 2º trimestre de 2025 reforça que crescimento e lucro são importantes, mas não bastam para garantir sustentabilidade. A convivência de diferentes modelos de negócio – volume e valor – aponta que a diversidade estratégica será uma marca do setor nos próximos anos, especialmente à medida que tecnologia e inovação acadêmica se tornam decisivas para manter margens saudáveis e garantir a atração de alunos.
Fusões e aquisições em educação recuam 23% no semestre
O panorama das fusões e aquisições no setor de educação também reforça o momento de cautela e reconfiguração estratégica. Dados da pesquisa semestral da KPMG mostram que, entre janeiro e junho de 2025, foram concretizadas 13 operações, uma queda de 23,5% em relação ao mesmo período de 2024.
A maioria das transações manteve caráter doméstico, envolvendo apenas empresas brasileiras, mas cresceu a participação de investidores estrangeiros em aquisições de instituições nacionais. Esse movimento indica que, apesar da retração do mercado interno, o interesse internacional pelo setor educacional brasileiro segue consistente, sobretudo em áreas ligadas à tecnologia e expansão de serviços digitais.
Para os gestores, o dado evidencia dois pontos centrais: de um lado, a dificuldade de avançar em consolidações internas diante de juros altos e incertezas fiscais; de outro, a oportunidade de atrair capital externo e reposicionar operações em um mercado que se mantém atrativo no longo prazo.
Ao lado dos resultados operacionais e financeiros do trimestre, o recuo nas operações de M&A mostra que a sustentabilidade do setor dependerá cada vez mais de escolhas estratégicas. Escala, inovação e conexão com o mercado de trabalho tornam-se, assim, fatores decisivos não apenas para competir, mas também para despertar interesse de parceiros e investidores.
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