Como varejistas respondem às tendências do setor de alimentos e bebidas no Brasil
Publicado originalmente na Coluna Peers do Money Times
“Dentre as tendências, destaca-se a busca crescente por saudabilidade e bem-estar, reduzindo o consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados”, explica Edson Kawabata (Imagem: Pixabay/ Cattalin)
Neste mês, o IBGE publicou os resultados da economia em 2023, sinalizando crescimento anual do PIB de 2,9% e do consumo das famílias em 3,2%, chegando a R$ 10,9 trilhões e R$ 6,9 trilhões no ano, respectivamente. Alimentos e bebidas representam cerca de 11% do consumo das famílias, um valor anual acima de R$ 750 bilhões, com base nos preços ao consumidor final. Em volume, da produção total de 270 milhões de ton/ano no Brasil, cerca de 73% são destinados ao mercado interno.
O consumo de alimentos e bebidas se divide em duas modalidades: realizado no lar (com aquisição no varejo alimentar, como supermercados e mercearias), que representam de 60 a 65% do total e fora do lar (em restaurantes, bares, hotéis e afins), com os demais 35 a 40%.
Como registro histórico sobre este balanço, para atenuar o impacto da crise e o risco de fome durante a pandemia, o Governo Federal destinou cerca de R$ 620 bilhões em programas de combate à crise em 2020 e 2021, sendo mais de R$ 230 bilhões em auxílio emergencial de proteção social a pessoas em situação de vulnerabilidade. Porém, a alimentação fora do lar sofreu uma retração de mais de 30% em relação a 2019, diante das restrições de funcionamento, levando ao fechamento de mais de 300 mil estabelecimentos no país. Em 2023, os níveis pré-pandemia já foram restabelecidos, mas alguns hábitos adquiridos na crise foram incorporados de forma recorrente.
Um dos fenômenos mais notáveis foi o crescimento de pedidos de alimentos e bebidas através do canal e-commerce, tanto de alimentação pronta, como da cesta tipicamente supermercadista. Como resultado, a participação do canal no setor saltou de 4% em 2019 para 13% em 2023.
Tal crescimento se manifesta tanto nas redes varejistas que investiram em vendas online, como em plataformas de marketplace alimentar, como iFood, que atende mais de 80 milhões de pedidos por mês com mais de 250 mil entregadores ativos, capilaridade necessária para entrega rápida, um dos grandes desafios do modelo de delivery.
Tendências e perspectivas para o setor
Dentre as tendências no setor, destaca-se a busca crescente por saudabilidade e bem-estar, reduzindo alimentos e bebidas ultraprocessados e com teores elevados de calorias, açúcar, sódio e gordura, e ampliando a demanda por produtos naturais e orgânicos com propriedades funcionais (os chamados “nutracêuticos”), como antioxidantes, desintoxicantes, probióticos e ricos em fibras, proteínas, gorduras insaturadas, vitaminas e minerais.
Demonstrando sua relevância, o segmento de alimentação saudável movimenta mais de R$ 180 bilhões ao ano e cresce a taxas anuais próximas de 20% no Brasil, como base para dietas mais equilibradas e controladas (com restrições a glúten e lactose, por exemplo).
Nessa linha, o Governo Federal instituiu uma nova tabela de informação nutricional (TIN) e rotulagem nas embalagens, através da RDC 429/2020 e da IN 75/2020, que exigem adequação dos produtos em geral desde outubro de 2023.
A evolução tecnológica na gestão da cadeia de ponta a ponta também se torna essencial para a garantia de rastreabilidade, qualidade e segurança alimentar, exigindo coleta de informações desde a origem e controle de lotes em suas passagens nos elos de produção e distribuição, conforme INC 02/2018. Tais controles também favorecem práticas mais sustentáveis, incluindo reciclagem de embalagens e redução de desperdícios, que chega a 30% do total produzido, em toda a cadeia.
Com a crescente digitalização das relações com clientes e desenvolvimento analítico sobre seu perfil, transações e comportamento, indústria e comércio se aproximam cada vez mais segmentadas e personalizadas na busca por preferência, fidelidade e formas de capitalizar sobre a força de marcas. Exemplos como Swift reforçam esta tendência, com mais de 400 produtos e mais de 500 lojas, entre próprias, localizadas em redes varejistas e móveis, além de vendas diretas online.
Ampliando a perspectiva, num universo de consumo cada vez mais centrado no consumidor, alimentos e bebidas são grandes elos de conexão, por sua essencialidade à vida das pessoas e alta frequência de contato com todas as camadas da população. Assim, grandes marketplaces originalmente focados em não-alimentos cada vez mais fortalecem sua oferta em produtos alimentares, como aposta de aceleração de crescimento. Um exemplo disso é o Mercado Livre, plataforma líder de e-commerce no Brasil, que criou uma categoria de Supermercados, e conta com parcerias com grandes redes, como Carrefour e Pão de Açúcar.
Enfim, reforçando a perspectiva de crescimento anual do setor acima de 10%, investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação na indústria alcançaram R$ 19,1 bilhões em 2023, somando-se a outros R$ 16,8 bilhões em M&A, demonstrando sua pujança como um dos grandes motores da economia e seu papel fundamental na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros.
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