Este artigo é uma atualização do conteúdo originalmente publicado no Money Times, adaptado e ampliado para refletir as novas informações relevantes sobre o tema. Confira o texto original publicado na nossa coluna.
A sigla Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia), diz respeito à taxa básica de juros da economia brasileira. Essa taxa é muito importante para a política monetária do Brasil, sendo controlada pelo Banco Central, que decide quando aumentar ou baixar a taxa Selic.
Assim, o Banco Central é capaz de controlar a inflação, mas também pode trazer grandes impactos no cotidiano de empresas e investidores, encarecendo o crédito e aumentando os custos financeiros, o que gera consequências nos investimentos e operações das empresas.
Dessa forma, as empresas precisam adotar estratégias eficazes para lidar com os efeitos do aumento da taxa Selic, reavaliando os planos de investimento, otimizando a gestão de caixa e buscando alternativas de financiamento para melhorar as condições da empresa.
No texto abaixo, vamos entender mais a fundo sobre o que é a taxa Selic e como ela afeta as empresas e a economia em geral. Confira!
O que é a taxa Selic?
A taxa básica de juros da economia brasileira, também chamada de taxa Selic, é uma importante ferramenta para determinar as taxas de juros no Brasil e controlar a inflação através do Banco Central, influenciando os custos dos empréstimos e financiamentos, com impactos no consumo e investimento na economia.
A taxa Selic é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), em reuniões periódicas, onde a situação econômica é analisada com base nas operações diárias dos bancos, que refletem a demanda e oferta de dinheiro no mercado. Após essa análise, a taxa Selic é ajustada de acordo com o cenário observado.
Com esse importante papel para a política monetária nacional, a taxa Selic é essencial também para o mercado financeiro, impactando a rentabilidade de investimentos como CDBs, fundos de renda fixa e títulos do Tesouro, sendo um importante indicador para investidores e economistas compreenderem a saúde econômica do Brasil.
Como ela afeta as empresas e a economia em geral?
Os efeitos do aumento da taxa básica de juros (Selic) são facilmente identificados e sentidos no dia a dia do cidadão. Inicialmente pelos sintomas da doença que este remédio tenta tratar (o aumento de preços pela inflação), mas também pelos efeitos da elevação dos juros em si, que acarretam acréscimo dos custos de empréstimos e maiores dificuldades para obtê-los.
No entanto, para além dos efeitos óbvios, existem outros impactos, especialmente na vida dos investidores. Esses impactos são mais claramente percebidos no aumento do fluxo de moedas entre países, fluxo de capitais saindo e entrando e consequente impacto na taxa de câmbio.
Controle da inflação
A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação do país. De acordo com o Relatório Focus, do Banco Central do dia 16/09/2024, as perspectivas para o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 passou de 4,30% para 4,35%, na nona semana seguida de alta.
A previsão para a inflação de 2025 subiu de 3,92% para 3,95%. A projeção para 2026 subiu de 3,60% para 3,61% após 14 semanas de estabilidade. Para 2027, a estimativa continua em 3,50% há 63 semanas.
Custos de empréstimos
Esse contexto tem consequência no dia a dia do cidadão, visto que acarreta um aumento no custo de crédito para empréstimos bancários. Em setembro de 2024, a taxa média para empréstimos pessoais foi de 7,96% ao mês, de acordo com o Núcleo de Inteligência e Pesquisas – EPDC – Procon-SP. Esse aumento no custo de crédito, alinhado à inflação, tem impacto direto no consumo.
Gestão do capital de giro
De uma forma mais indireta, o aumento dos juros também tem impacto na estratégia e nas operações das empresas, principalmente em como gerenciam seu capital de giro e no reflexo das mudanças necessárias na operação, em razão do aumento do custo do dinheiro necessário para conduzir as suas atividades.
Decisões de investimento das empresas
Ainda, podemos perceber também a alteração dos retornos esperados dos investimentos, as movimentações do mercado e opções de investimento disponíveis.
Isso pode gerar, dentre outras consequências, redução no número de opções de produtos disponíveis no varejo, seja pela diminuição da velocidade nos investimentos ou pelo aumento na seletividade das aquisições dos clientes. É um ciclo vicioso que acaba influenciando a economia como um todo.
Desafios da Selic para as empresas
Como apontamos, o aumento da Selic atinge também as empresas e exige adaptação às novas condições do mercado. São diversos aspectos, mas existem dois mais relevantes que vamos apresentar em maiores detalhes a seguir:
Custos
O primeiro deles é referente aos custos das dívidas ou seu custo de financiamento com terceiros.
Uma empresa em geral utiliza dinheiro financiado para vários fins, desde grandes investimentos até para alavancar suas vendas disponibilizando crédito a seus clientes ou mesmo para tocar gastos do dia a dia.
Com o aumento dos juros, os custos dos empréstimos se tornam cada vez maiores e, simultaneamente, com o aumento dos índices de risco do mercado, níveis de endividamento etc., também cada vez mais difíceis de serem obtidos.
Em um contexto de crise, em que a empresa necessita de financiamento para dar continuidade às suas operações, esse cenário pode ser crítico, além de significar uma piora geral nos resultados apresentados por elas em seus balanços.
Gestão do capital
Já o segundo fator diz respeito à gestão do capital total investido na operação.
As empresas demandam dinheiro para tocar seu dia a dia e realizar investimentos. Existem algumas fontes possíveis, que podem ser as receitas da companhia, empréstimos e equity, ou o famoso “dinheiro de investidor” ou acionista.
Quando falamos em equity em um contexto de juros altos, se trata de uma fonte de dinheiro que fica cada vez mais cara pois demanda maiores retornos em comparação com outros investimentos, como a renda fixa, ficam mais interessantes.
Se trata de uma competição pela preferência dos investidores, que sempre buscarão a melhor combinação possível de maior retorno, com menor risco (ou pelo menos com risco aceitável sob o ponto de vista de seus respectivos estômagos).
No cenário atual, os resultados das empresas já se encontram bastante pressionados. E, para piorar, as empresas foram estimuladas a investir entre 2019 e 2021, um período de juros baixos e dinheiro barato, mas agora têm excesso de ativos (em forma de estoques, maquinário ou edifícios), o que piora o retorno obtido por elas sobre o investimento (já que a base da conta fica maior).
Como as empresas podem se adaptar a um cenário de juros altos?
Portanto, é importante que as empresas busquem reduzir ou otimizar seu capital total investido, ou working capital, adequando sua estratégia a fim de ter a alocação de seu capital na operação da forma mais eficiente possível, gerando menos custos e melhores retornos. Existe um amplo leque de ferramentas e ações que podem ser utilizadas neste sentido.
Gestão eficiente de estoques
Do ponto de vista de gestão de estoque, as empresas precisam alinhar demanda, oferta e previsões financeiras, com melhor planejamento de vendas e operações. Uma melhor organização de pedidos e uso de ferramentas colaborativas e de abastecimento podem ajudar a reduzir seus níveis de estoque, custos e melhorar o serviço.
Simultaneamente, devem ser mais seletivas sobre quais produtos devem constar em seu portfólio, colocando suas fichas nos mais atrativos com maiores retornos e maior giro.
Fornecedores
Além de ações mais tradicionais de busca de redução de custos unitários com negociações, as empresas podem também aprimorar seus relacionamentos com seus fornecedores para otimizar os estoques ao longo da cadeia, aplicando estratégias “just in time” ou de cadeia leve e reposição automática, compartilhando estes custos com o fornecedor.
Outro aspecto importante seria melhorar o fluxo de pagamento a fornecedores, com atenção ao custo e benefício entre pagamentos a prazos curtos com desconto versus pagamentos com prazos estendidos com maior alívio no capital de giro. Novos contratos, portanto, deveriam ser negociados levando em conta também estes aspectos.
Melhoria na gestão de recebíveis
As empresas devem implementar processos para melhorar sua gestão de recebíveis, tornando seus processos de cobrança mais efetivos. Contudo, devem tomar cuidado para não deixar de ajustar suas estratégias de financiamento de clientes, buscar reduzir o prazo de recebíveis e melhorar a avaliação do crédito frente a rentabilidade dos mesmos.
Como monitorar as mudanças na taxa Selic
Ao longo deste texto estamos reforçando a importância de monitorar as mudanças na taxa Selic, para entender a dinâmica da economia brasileira e suas implicações nos negócios.
Como vimos, o Copom é o responsável por definir a taxa Selic, em reuniões que acontecem geralmente a cada 45 dias, avaliando a economia e definindo as diretrizes da taxa.
Portanto, vale a pena se manter atualizado quanto à periodicidade dessas reuniões, além de consultar os relatórios econômicos e publicações financeiras constantemente, conferindo análises e previsões atualizadas sobre a Selic em um panorama mais amplo.
Destacamos que é sempre importante também seguir as notícias econômicas, para garantir uma vigilância constante sobre esses fatores.
Dicas para adaptar suas estratégias financeiras
De forma geral, as empresas precisam reduzir o capital total utilizado na operação, selecionando melhor onde investi-lo. Desta forma, podem reduzir custos e gerar melhor índice de retorno, avançando em termos de competitividade em relação ao restante do mercado.
A agilidade com que as empresas conseguirem realizar esta virada estratégica e adequar sua operação ao novo cenário é crítica e será um divisor de águas.
Do ponto de vista dos acionistas, a expectativa de retorno sobre os investimentos aumentou. A partir de agora, o investidor passará a ser mais atraído a produtos pós-fixados atrelados a taxas atrativas atuais da Selic e CDI, com menores riscos, e mais seletivo nas suas aplicações de renda variável, exigindo prêmios maiores.
Empresas que tiverem maior dificuldade de adaptação perderão atratividade e, em um cenário de menor disponibilidade de capital, suas ações perderão valor no curto médio prazo, com impactos significativos possíveis também em suas estratégias de longo prazo.
Conclusão
Nesse texto foi possível entender como a taxa Selic é importante para a saúde da economia brasileira, e como as variações nessa taxa podem impactar de forma significativa as operações de negócios e investimentos no Brasil.
Como vimos, a sigla Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia), aponta a taxa básica de juros da economia brasileira, sendo controlada pelo Banco Central, que decide quando aumentar ou baixar a taxa Selic, para controlar a inflação.
As alterações na taxa Selic são de responsabilidade do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne a cada 45 dias para avaliar a situação econômica brasileira, e decidir qual será a definição aplicada para a taxa Selic no cenário observado.
Os efeitos do aumento da taxa Selic são facilmente sentidos no dia a dia do cidadão, dos investidores e das empresas, com o aumento de preços pela inflação e a elevação dos juros, que aumentam os custos de empréstimos, a gestão do capital de giro e as decisões de investimentos das empresas.
Com uma importância tamanha, monitorar as mudanças na taxa Selic é essencial para entender a dinâmica da economia brasileira e suas implicações nos negócios.